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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

13. A solução de esperança

Alvoroço e desespero na reunião da noite. Já sabiam do estado de coma do cultivador. Tudo se fazia emergente. A necessidade em fazer algo era tão importante naquele momento que nem perceberam suas diferenças. Todos só tinham um único objetivo: tentar trazer de volta o cultivador. Todos davam ideia, até as Cenorrabas participavam. Ouviam-se, e o mais interessante, é que ao olharem-se não percebiam suas diferenças, mas a sede de solução.

As ideias foram várias, porém, a considerada mais votada foi a de conseguir chegar, com a ajuda das asas de Pardal, até o cultivador e pedir-lhe para acordar. Precisariam de um voluntário.

- Eu vou – se ofereceu quase por impulso Cenotita - Quero ajudar nosso cultivador a voltar para nosso convívio.

Uma voz questionou:

- E se você falhar?

- Se ela falhar tentaremos outro plano. Será melhor do que saber que pode fazer algo e nem sequer tentou. Não vamos exigir mais do que poderá dar – e voltando-se para a voluntária completou Pinheiro-Silvestre: - Dê a sua vontade e disposição e basta.

- Eu posso ir junto? – questionou uma cenorraba também jovem.

Olharam-na agora sem ódio, mas também sem saber direito o que pensar. Sempre-Viva expôs sua opinião com muita sinceridade:

- Sou a favor de que você vá. Como é seu nome, jovem?

- Eu sou Cenorramaria.

- E você consegue perceber a dimensão do problema que estamos tentando resolver?

- Sim, senhora. E me desculpe pela ousadia, mas quero que vocês entendam que para nós também não é fácil viver sem o cultivador, apesar de sermos diferentes, apesar de não nos expressarmos da forma mais habitual das herbáceas. Também nos perguntamos “quem somos”, “de onde viemos”, “para onde vamos”. Só agora depois de três gerações é que temos um passado. Muitas de nós somos mais desenvolvidas do que as primeiras, já estamos começando a nos conhecer. Por favor, me deixe ir com Cenotita.

            O brilho de Esperança estava voltando. Aquele brilho que tanto fascinava. Urtiga apoiou a opinião de Sempre-Viva:

            - Por mim você pode ir Cenorramaria. E me desculpe por meu jeito agressivo. Eu sou uma planta rude, grosseira. Só que agora, vejo que todos têm seu valor, todos temos o direito à vida e ao respeito, independente de qualquer coisa.

            Planejaram a entrada no quarto. Tudo era possibilidade. Certamente num quarto de UTI entrar duas plantinhas seria um tanto difícil. Pensaram em entrar pela janela. Mas e se ela estivesse fechada? Como transportar as plantas com terra? Isto só seria possível se fossem num vazo, mas para irem num vaso alguém teria que transferi-las para o vaso, sendo assim necessitavam de ajuda. Mas como?

            Enquanto conversavam Lui passeava pela horta, tristonho, com saudades do dono. De repente Pardal teve uma idéia:

            - Penso que achei a solução: vamos conversar com o Lui e convencê-lo a trazer as crianças para cá, aí nós conversamos com elas para transferirem vocês pra um vaso e as levar pro cultivador.

            Aparentemente não fazia sentido aquela ideia. Como conversar com o Lui? Como o Lui conversaria com as crianças? Como as crianças entenderiam as plantas? “Ideia de jerico” alguém exclamou.

- Vocês são mesmo muito incrédulos – exclamou Pardal – Será que ainda não perceberam que todos nesta horta, todos nesta casa estão sofrendo pelo cultivador? Todos estão mais sensíveis. Eu acredito que vai dar certo. Acredito que o Lui vai entender, creio que as crianças serão tocadas no coração quando nos ver e mesmo que não entendam nossa linguagem, elas saberão ler com os sentidos do coração.

Pardal transmitiu certeza e segurança a todos de forma que aceitaram.  Pediram ao vento para remexê-los até que conseguissem chamar a atenção de Lui. Deu certo. O cachorro veio, cheirou as plantas vagarosamente, levantou a cabeça em direção da casa e latindo bem alto saiu correndo casa dentro. Entrou e foi ao quarto das crianças. Latia sem parar.

- Para Lui! – repreendiam-no – O que você quer?

Lui mordia e puxava suas calças, quase os arrastando.

- O que foi?  Que é isso Lui?

Lui soltou a menina e olhando para a porta latia.

Compreendeu que o cão lhes queria mostrar algo.

- Ele está querendo nos mostrar alguma coisa. Vamos lá Lui.

Saíram correndo. Lui na frente e as crianças atrás. Passaram pela sala tão rápido que nem perceberam os pais no sofá ainda sob o choque da notícia do estado de coma e foram direto para a horta. Lui parou de latir. As crianças ficaram surpresas com Cenotita, fazia tempo que não viam uma cenoura. Agacharam e como se uma voz misteriosa lhes falasse, contemplaram a cena, pareciam encantados por algum feitiço.

- Por que nós estamos aqui olhando para as plantas? Por que o Lui nos trouxe aqui?

- Vamos levar esta plantinha para o vovô? – alguém sugeriu.

            - É isso!  O  Lui sabe que o vovô gosta das verduras. O médico disse que o vovô não pode ficar triste. Quem sabe se ele tiver uma plantinha perto dele se sentirá mais alegre?

- Boa ideia! – Vamos colocá-la num vaso e levá-la na hora da visita. Vamos pegar um vaso.

Foram ao porão, pegaram um vaso e cuidadosamente transferiram Cenotita.

- Vamos levar também aquela – apontando para Cenorramaria.

Todos concordaram. As duas foram transferidas e carinhosamente levadas para a casa. Toda Esperança suspirou de alegria. Como Pardal afirmara, existe uma linguagem universal que une todos os seres e que se chama amor. Nenhum ser vivente desconhece esta linguagem.

(Continua...)

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