Quando a
gente guarda por muito tempo uma experiência que julga secreta e depois decide
contá-la parece que ela não tem mais o mesmo peso e pode ser reinventada.
O
que vou contar é surpreendente, pelo menos para mim, que de certa forma nasci
desta história. Guardá-la só para mim tinha
mais a ver com a influência do tempo sobre a forma de pensar das pessoas do que
com qualquer outro motivo. Às vezes é preciso aguardar, observar como as
pessoas reagem frente a uma nova situação, esperar até que se acomodem para só
então desacomodá-las novamente. É como oferecer comida a quem está satisfeito e
a quem está faminto, não importa o prato e sim o tamanho da fome.
Sabe por que contar agora? Porque agora as
pessoas têm fome e fome de sentido. Antes elas tinham fome de coisas, então
compraram micro-ondas para aquecer a comida e não sujar o fogão. Hoje elas não
sabem mais porque comem, nem o que comem. Antes elas tinham fome de amor e
agora se casam várias vezes, mas se não têm cuidado trocam o nome do parceiro.
Antes as pessoas queriam trabalho digno e agora ganham celulares e outros
tantos prêmios, mas precisam ficar dezoito horas na empresa, inclusive no dia
do aniversário do filho. Antes elas desejavam ter e agora não sabem onde está o
sentido das coisas que possuem.
Todos nós temos cinco sentidos: o olfato para
sentir o cheiro das flores e do rio poluído, o paladar para sentir gosto doce e
amargo, a audição para ouvir os sons dos pássaros e das buzinas dos carros
dentro de túneis intermináveis, a visão para ver o rosto de nossa mãe e a arma
do bandido apontada pra gente e, enfim, o tato para tocar nossos filhos e a
panela quente do molho de macarrão. Poucos descobrem que além destes temos um
sentido que dá sentido a todos os outros: é a capacidade de ler corações. É a leitura do coração que ensina os
outros sentidos a escutar, a ver, a enxergar e a sentir coisas que antes não
sentiam, como por exemplo, a Revolução
das Verduras e Legumes.
Eu posso
até contar como aconteceu tal Revolução e vocês chegarem à conclusão de que é
um conto, uma historinha boba, fiquem à vontade. O que de fato eu sei é que posso
até reproduzir todos os acontecimentos, porque eles estão dentro de mim, como
um legado. Posso fazer aparecer todas as imagens dentro da tua cabeça, posso exalar
os cheiros, fazer você sentir e escutar a voz de cada personagem da Revolução. Mas
para que você entenda de verdade como tudo aconteceu, é preciso que você
aprenda a ler as coisas aqui escritas, com os olhos do coração. Como fazer
isso? É fácil. Há algum lugar na casa onde você mais gosta de ficar? De
preferência próximo a algo vivo, uma planta, um aquário, a casinha do cachorro,
a caminha do gato ou uma janela aberta com vistas para o céu e nada mais. Sente-se
e respire fundo, se imagine num lugar bem bonito e comece a ler. Não é preciso
contar a ninguém, será um segredo só nosso. Depois, quando tudo estiver
contado, se você quiser, poderá revelar aos outros, mas isto não significa que
eles se interessarão.
(Continua...)
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