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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

15. As plantas também rezam



            Dentre todas as noites do tempo em que Antônio estava no hospital, a que antecedeu a ida de Cenotita e Cenorramaria  foi a mais interessante. Uma chuva fina caia sobre os telhados de Céu Azul. Na casa de Antônio todos se deitaram, mas nem todos conseguiram dormir, principalmente os adultos. Paulo Afonso fazia suas orações e ajoelhado aos pés da imagem de Nossa Senhora da Esperança pedia pela recuperação do pai, intercalando orações de conformidade com orações de desespero. A janela estava aberta e a luz da lua iluminava Rosa-Flor e Pinheiro-Silvestre. Num momento de profundo diálogo com os céus, palavras em forma de oração e poesia começaram a sair dos lábios angustiados do amigo de Deus:

            “Deus,
olhando entre as pobres grades de uma janela da vida,
            assim como se olha por uma alma empobrecida,
vejo a chuva que cai com tal leveza,
            quanto a mão de uma mãe que acalenta o filho pródigo.

            Ah, pobre de mim,
            contemplando de longe as maravilhas
            vindas de mãos tão divinas...
            escute-me Deus.

            Aquela Rosa...alí.
Tão sozinha em sua plenitude, tão acalentada pelos que a cercam.
De longe a admiram. Rosa tão perfeita, tão frágil, mas tão amada e admirada.
            Todos a invejam, principalmente eu.
           
Ela, a mais bela de todas: A Rosa.
            Que do lado de fora das grades contempla a chuva.

            És, meu Deus, este forte Pinheiro
            Cujo raio de sol o faz feliz.
Refletindo o rosto meigo, daquele que ama sem saber se é amado.
            Daquele que se doa sem sentir o afago da doação.

            Meiga Rosa,
            Ao lado do bravo e amigo Pinheiro,
cuja alma é abrigo às criaturas abençoadas e bem vindas.

            Pobre de mim.
            Observo de longe, com olhos que não enxergam.
Ao longe, mesmo de longe te sinto no mais profundo esconderijo,
            de um coração que não merece, Rosa, ser percebido.

            Minha mão não te alcança.
Teus espinhos repletos de essência
do amor e da compaixão podem me ferir.
            Vida não conquistada, não vivida.
            Condeno-me a vida e me deixo levar
            pela visão mais bela que já tive.”


       Elisabete e Pedro, cada um em seu leito, vivia sua angústia pessoal.

          Muito mais tensas estavam Cenotita e Cenorramaria. De forma alguma conseguiram adormecer. Não sabiam nem sequer o que conversar, as horas pareciam uma eternidade. De repente, Cenorramaria voltou-se para Cenotita e disse:

            - Cenotita, o que você costuma fazer quando está nervosa?

            - Bom, depende da situação. Às vezes eu canto, às vezes fico me balançando de um lado para o outro, às vezes fico recitando poesias, sei lá. Por quê?

            - Por nada não. É que eu estou muito angustiada.

            - Eu também. O que você acha de conversarmos com o Grande Artista do Universo? Ele pode nos acalmar.

            - Mas onde está ele? Eu não o vejo   perguntou Cenorramaria um tanto confusa.

            - Você não precisa vê-lo, basta acreditar que Ele está aqui. Ele realmente está. Ele está em tudo aquilo que criou.

            - Ele me criou?

            Cenotita ficou um pouco confusa. Como dizer que Cenorramaria não fora criada pelo Grande Artista do Universo? A vida a Ele pertence. Se não foi Ele quem a criou, pelo menos foi Ele quem lhe deu o sopro de vida.

            - Sim. Foi o Grande Artista do Universo quem te deu vida.

            - E como se conversa com Ele?

            - Como se conversa com o melhor amigo. – respondeu Cenotita. – Nós podemos tentar. Eu começo a falar e você também. Vamos recitar uma poesia ao nosso Criador.

            - Está bem – aceitou Cenorramaria.

Cenotita:                    “ Criador Nosso, que mora no céu
Cenorramaria:                        O teu nome é tão belo e grandioso
Cenotita:                    Mande a nós a tua paz, o teu carinho
Cenorramaria:                        Para que nós façamos aquilo que você quer
Cenotita:                    Hoje, amanhã e sempre
Cenorramaria:                        Dá-nos sempre a terra mãe
Cenotita:                    Não leve em conta nossos erros
Cenorramaria:                        Nos ensina a não levarmos em conta os erros dos outros
Cenotita:                    Por favor, não nos deixe enfraquecer
Cenorramaria:                        Liberta-nos do medo
Juntas:                        Assim seja!”

            Com a alma mais tranquila cada uma adormeceu, atraindo para aquela casa a paz e a esperança.

(Continua...)

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