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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

8. O estranho barulho



- Não pisa no meu pipa! – bradou um dos meninos.

- Desculpa! Eu não vi a linha.   

            As férias passavam sem que percebessem. A vida em Céu Azul era como um paraíso para os pequenos urbanos. Brincavam o dia todo e se não fosse o avô insistir, nem se lembravam de voltar para casa na hora das refeições. Mesmo após o jantar costumavam sair para a rua em grupinhos, contar piada, programar as aventuras do dia seguinte ou contar as estrelas, as estrelas que não podiam ser vistas na cidade.

             Por seu lado o agricultor fazia o que podia para esquecer sua antiga Esperança. A presença dos netos o mantinha ocupado e distraído durante o dia. Já, ao anoitecer, se sentava na varanda e conversava com seu passado. Ás vezes até falava em voz alta ao lembrar do tempo em que seus filhos eram pequenos. Recordava as travessuras e as doenças de infância que o deixavam tão preocupado, principalmente quando a filha teve caxumba, e, ardendo em febre em seus braços com os outros dois pequenos também solicitando o colo, pensava na esposa, Maria Rosa, mulher extraordinária, meiga, terna, dedicada e forte como uma rocha, que enfrentara a seu lado todos os problemas que a vida lhes trouxera. 

            Fase difícil que o fizera a pensar em novo casamento. Chegou a conhecer algumas mulheres, mas quando olhava para os filhos e pensava na possibilidade de não serem aceitos pela madrasta, logo desistia. Numa noite muito chuvosa, dessas que parece vir com o propósito de colocar à prova os medos, um raio atingiu uma das árvores do quintal derrubando-a em cima do telhado, e se não bastasse o susto e as goteiras por toda a casa, as crianças ardiam em febre por causa de um surto de gripe. Pensou não ser justo o que passava e que não aguentaria cuidar e educar sozinho as crianças. Talvez tivesse sido melhor ele morrer e não sua querida Maria Rosa, porque as mulheres sempre são mais fortes nestas ocasiões. 

            Agora percebia que todo sofrimento valera, que seus filhos estavam criados, educados e frutificados. Embebido em suas recordações, nem percebeu a neta se aproximar. A menina o abraçou por detrás da cadeira assustando-o.

 - Que gostoso, Carol. Eu queria que todos os avô do mundo tivessem uma netinha assim como você que gosta de abraçar seu velho e feio avô.

            Encostando o rosto no rosto meio barbudo do avô disse:

- E eu queria que todos os netos e netas do mundo tivessem um avô igual a você pra abraçarem.

            Ficaram assim por alguns instantes olhando para o céu estrelado.

            Lui se levantou latindo com as orelhas em pé, olhando em direção à horta, atrapalhando assim a belíssima cena.

- Quê foi Lui? – perguntou em tom de repreensão.

            O cachorro não parava de latir em direção à horta. Avô e neta apreensivos olhavam para o local e não viam nada de errado. De repente o cachorro saiu correndo pela horta.

- Lui! Volta aqui!

            Um leve frio na barriga, um sentimento de medo percorreu sua espinha da menina que ficou mais próxima do avô.

- O quê o Lui tem vovô?

            Abraçando-a entrou na casa.

            - Num sei minha fia, os cachorro tem a audição muito aguçada. Ele deve ter escutado algum rato do mato andando por aí. Num é nada demais. Vamo entrá que já tá esfriando.

(Continua...)

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